terça-feira, maio 31, 2011

Pensamento

“O homem que sofre antes de ser necessário, sofre mais que o necessário”.
(Lucius Annaeus Seneca, mais conhecido como Sêneca, filósofo, nasceu no ano 4 a.C. em Córdova e morreu no ano 65 d.C. em Roma.)

O que discutir sobre o polêmico livro? Artigo de Pasquale Cipro Neto

Em 1988, eleita prefeita de São Paulo, a professora Luiza Erundina nomeou Paulo Freire secretário da Educação do município. Antes de assumir, o consagrado educador disse mais ou menos isto: "A criança terá uma escola na qual a sua linguagem seja respeitada (...) Uma escola em que a criança aprenda a sintaxe dominante, mas sem desprezo pela sua (...) Precisamos respeitar a sua sintaxe mostrando que sua linguagem é bonita e gostosa, às vezes é mais bonita que a minha. E, mostrando tudo isso, dizer a ele: "Mas para tua própria vida tu precisas dizer a gente chegou em vez de dizer a gente cheguemos". Isto é diferente, a abordagem é diferente. É assim que queremos trabalhar, com abertura, mas dizendo a verdade".
A declaração de Freire causou barulho semelhante ao que causou (e ainda causa) o livro "Por uma Vida Melhor", em que se mostram fatos relativos às variações linguísticas. Nele, dá-se como exemplo de norma popular a frase "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado". Dado o exemplo, explica-se isto: "O fato de haver a palavra os (plural) indica que se trata de mais de um livro. Na variedade popular, basta que esse primeiro termo esteja no plural para indicar mais de um referente". O livro prossegue: "Reescrevendo a frase no padrão culto da língua, teremos: "Os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados". Você pode estar se perguntando: "Mas eu posso falar 'os livro'?" Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico".
Há uma certa contradição na explicação, já que na frase popular a forma verbal ("estão") está no plural. Nessa variedade, o que se usa é "tá".
O caso aborda no livro é tecnicamente chamado de "plural redundante". Tradução: na forma culta ("Os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados"), todos os elementos que se referem a "livros" (núcleo do sujeito) estão no plural (os, ilustrados, interessantes, estão, emprestados). É assim que funciona a norma culta do espanhol, do português, do italiano e do francês, por exemplo. Em francês, o plural redundante se dá essencialmente na escrita; na fala, singular e plural muitas vezes se igualam.
Em inglês, pluraliza-se o substantivo; o artigo, o possessivo e o adjetivo são fixos (na escrita e na fala). Quanto ao verbo, a terceira do singular do presente é diferente das demais pessoas em 99,99% dos casos; no pretérito e no futuro, há apenas uma forma para todas as pessoas.
O fato é que a ausência do plural redundante não se restringe à variedade popular do português do Brasil. Também é fato que, apesar de algumas afirmações pueris (""Mas eu posso falar "os livro'?" Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico"), em nenhum momento o livro nega a existência da norma culta, como também não se nega a mostrá-la e ensiná-la. Há vários exercícios em que se pede a passagem da norma popular para a culta.
Definitivamente, não se pode dizer que o livro "ensina errado". O cerne da questão é outro. O que expliquei sobre o exemplo do livro é assunto da linguística, que, grosso modo, pode ser definida como "estudo da linguagem e dos princípios gerais de funcionamento e evolução das línguas" ("Aulete"). A linguística não discute como deve ser; discute como é, como funciona. O que parece cabível discutir é se princípios de linguística devem ser abordados num livro que não se destina a alunos de letras, em que a linguística é disciplina essencial. Esse é o verdadeiro debate. Não faltam opiniões fortes dos dois lados. É isso.

Fonte: Folha de S. Paulo

Disponível em: http://www.sinepe-mg.org.br/bisnoticia/bisnoticia.php?news=news1¬icia=6

Para estudiosos, vídeos do 'kit anti-homofobia' mostram menos que novelas

Não há cena de beijo nem de sexo. E os relacionamentos são sempre baseados na amizade e no carinho, nada muito "caliente". Mesmo assim, com cenas mais leves até do que as de novelas, os vídeos produzidos para fazer parte do chamado "kit anti-homofobia" foram criticados por congressistas evangélicos e católicos e rejeitados por Dilma Rousseff. O conteúdo do material, que seria usado no combate ao preconceito em escolas de ensino médio, não foi aprovado pela presidente. Mas, na opinião de Laurindo Leal Filho, professor de comunicação da USP e especialista em teledramaturgia, ele deve ser aplaudido por sua "delicadeza". "Com grande delicadeza e muito cuidado, os vídeos tratam de um tema difícil, mas de uma forma perfeitamente assimilável pelos jovens." Para Leal Filho, não há incentivo à homossexualidade, como acusam os congressistas religiosos. Segundo o professor, o material pode dar uma grande contribuição contra a homofobia e tem o mérito de não trazer o tom jocoso ou a falta de contextualização que às vezes estão presentes em novelas e programas humorísticos. Já Claudino Mayer, pesquisador da USP em teledramaturgia e autor de "Quem Matou... O Romance Policial na Telenovela", considera os vídeos "atrasados" em relação aos folhetins. Segundo ele, na telenovela, não se diz que a pessoa é gay nem se discute o beijo, são as ações que levam a isso. "Ninguém precisa dizer: 'Fulano é gay'. O personagem já vem caracterizado. [...] O filme ['Probabilidade'] fala do beijo [gay], mas a telenovela já trouxe", diz ele, lembrando o beijo lésbico exibido no dia 12 na novela "Amor e Revolução", do SBT.

Original disponível em:
http://www.sinepe-mg.org.br/bisnoticia/bisnoticia.php?news=news1¬icia=4