quinta-feira, julho 14, 2011

quarta-feira, julho 06, 2011

Quem ama tem que ceder. Será?

Ceder é o pré-requisito número um para quem quer ter relações afetivas saudáveis, não é mesmo? Para quem apenas deseja viver em harmonia com aqueles que ama, certo? Errado. Explico o porquê.

Desde a mais tenra infância, somos levados a acreditar que só seremos amados e reconhecidos se nos comportarmos da forma esperada, adequada. Nossos pais, quando repreendem determinados comportamentos e apreciam outros, vão construindo em nós uma crença muito perigosa e nociva: a de que seremos abandonados e rejeitados se não os agradarmos. Assim, somos ensinados a agir da maneira que eles esperam e, em troca, ganhamos amor e proteção.

À medida que vamos crescendo, estendemos esse padrão a todas as nossas relações. Nós aceitamos reprimir nossa essência, nossa energia vital para corresponder às expectativas da sociedade (família, professores etc). É o que chamamos de concessão.

Somos os reis e rainhas da concessão. Atire a primeira pedra quem não foi,só para agradar, àquela festa tediosa da família do marido/mulher/namorado/namorada, visitou um parente por obrigação, ouviu aquele amigo/a pela enésima vez sobre suas lamúrias amorosas, acompanhou o cônjuge em um show de uma banda que você detesta, só para citar alguns exemplos.

Temos a ideia equivocada que nos comportamos assim porque somos bonzinhos, gentis e educados. O que custa, afinal de contas, fazer uma visitinha ou ir ao um show que detestamos? Custa. E muito! Não nos damos conta que por trás de tanta bondade está nossa necessidade de aprovação e aceitação. O outro, a quem dirigimos nossa concessão, não tem absolutamente nada a ver com nossa ‘generosidade’.

Na verdade, terminamos abrindo mão do que é essencial e vital para nós com medo de causar desarmonia e desprazer em nossas relações. Assim, passamos a fazer e dizer coisas contra a nossa natureza, minimizando ou negando nossos reais desejos. Esquecemos que a palavra “não” existe em nosso vocabulário e que ela pode e deve ser dita.

O resultado disso tudo, em vez de harmonia, são densentendimentos constantes acompanhados de uma recorrente sensação de frustração e de não apreciação: “eu faço tudo por ele/ela, mas ele/ela não reconhece”, “ele/ela é muito egoísta porque não quer ir comigo à festa”, “não acredito que ele/ela não quer ir comigo à casa da minha mãe, eu sempre faço isso por ele/ela!”.

Quando nos sentimos dessa maneira, é porque as cobranças já se incorporaram ao nosso vocabulário emocional e comportamental, pois quem faz concessão automaticamente cobra. O cobrador é aquele que pede de volta aquilo que deu contra sua vontade. E o pior: a pessoa cobrada nem tem consciência dessa ‘dívida’. Afinal, fomos nós quem aceitamos fazer o que não queríamos, não é verdade?

Concessão nada tem a ver com flexibilidade, que fique bem claro. Podemos fazer pequenas acomodações para vivermos em harmonia com as pessoas, o que está longe de irmos contra a nossa essência. Sair para comer sushi, em vez de pizza que era o que você gostaria, não é concessão quando se aprecia as duas opções.

Portanto, é fundamental que estejamos bastante atentos às concessões. Ceder às exigências de conduta da sociedade só traz prejuízos a nós mesmos e aos que nos rodeiam. Viver em harmonia e com autenticidade tem a ver com assumirmos nossas vontades e necessidades. E isso não implica na mudança do outro, mas na coragem de assumir o que verdadeiramente somos, pensamos e queremos!

Texto de Anamaria Lima, psicóloga clínica formada pela Universidade Federal de Pernambuco. Atende no espaço de tratamentos holísticos Pura Luz Yoga, utilizando como ferramentas auxilares os Florais Australianos, técnicas de respiração e da bioenergética.